Brasil: Um retrato de 525 anos
- Vilmar Bueno, o ESPETO
- há 2 horas
- 3 min de leitura

Brasil 22/04/2025 - Sexta-feira, 21 de abril de 1500. Passava do meio dia quando a frota de Pedro Alvares Cabral avistou terra após seis semanas em alto mar. Ancorou a frota a cerca de dez milhas (16 km) da atual Porto Seguro (BA) e na manhã seguinte, pequenas embarcações foram deslocadas até a praia e avistaram indígenas. Foi um misto de curiosidade e estranhamento. "Pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas", escreveu Pero Vaz de Caminha. Os primeiros diálogos foram gestos, olhares e expressões faciais. Os visitantes ofereceram gorros vermelhos e carapuças de linho e, de acordo com Caminha, os índios “não fizeram coisa algum”.
Entre aquele 21 de abril de 1500 e 21 de abril de 2025 se passaram 525 anos ou exatos 191.881 dias. Nesse intervalo nós nos transformamos em uma das grandes potências mundiais, mesmo por linhas tortas, entre avanços e recuos, com ou sem corrupção, com jeitinho, malandragem, assistencialismo, clientelismo e complexo de vira-lata (admirar o que existe lá fora). Somos um país vibrante que carrega altos níveis de desigualdades, além de profundamente burocrático, de políticas públicas instáveis e de uma infraestrutura precária, acima de tudo, em transportes e saneamento.
O que não faltam são obstáculos.
Em 1534, o rei D. João III, de Portugal, replicou no Brasil um empreendimento conhecido nas ilhas de Madeira e Açores – as capitanias hereditárias, espécie de Parceria Público-Privada – mas 15 anos depois a tentativa de promover a colonização e o desenvolvimento econômico começou a ruir. Parte desses propósitos foram alcançados nos 350 anos seguintes com ajuda de 5 milhões de escravos africanos. Se não bastasse, em 1785, um alvará proibiu a existência de indústrias, exceção à produção de tecidos grosseiros para os escravizados.
O Brasil tal qual o conhecemos hoje tem suas origens em 1808 com a vinda de D. João V, que extinguiu o descabido alvará e abriu os portos as nações amigas. Seu filho, D. Pedro II, deu passos importantes na modernização. Era progressista, entusiasta da ciência, da literatura e filosofia. Incentivou a fundação de escolas, bibliotecas, museus, e formação de professores no exterior. Trouxe o telégrafo e o telefone. É dele o primeiro plano para integrar o território por ferrovias – algo jamais alcançado.
Soluções adiadas
Com o tempo nos tornamos um país imprevisível juridicamente para empreender. A avaliação consta do Índice de Segurança Jurídica e Regulatória criado pelo Jota (startup especializada em jornalismo jurídico) para medir a percepção do setor sobre segurança jurídica e regulatória no Brasil – 87% dos participantes da pesquisa consideram que as empresas não conseguem planejar a longo prazo devido à instabilidade jurídica.
Além disso, acumulamos questões relevantes que ao longo de décadas foram negligenciadas, postergadas ou não enfrentadas de maneira eficaz. Daí também a crítica à falta de continuidade de metas de longo prazo para resolver os temas estruturais. A frase do historiador e antropólogo potiguar Luis Câmara Cascudo (1898-1986) de que o “Brasil não tem problemas, tem soluções adiadas”, permanece atualíssima – e estarrecedora.
A soma de tudo isso e mais nossas crendices explica a tortuosa marcha de desenvolvimento
O crescimento errático do PIB se perde no tempo, mas vamos ficar nos últimos 40 anos e ver como as decisões influenciam o futuro. Em 1980, China e Índia tinham PIB menor que o do Brasil. Hoje estamos muito atrás deles. Pudera, enquanto o nosso cresceu 8,7 vezes no período, o indiano evoluiu 19 vezes e o chinês 97 vezes. Outra maneira de analisar essa disparidade é olhar o PIB Per Capita: o do Brasil aumentou 4,4 vezes, a Índia, 9 vezes e a China 70 vezes.
E o que dizer da Coreia do Sul com uma área territorial pouco menor que Pernambuco e uma população quatro vezes menor que a brasileira? No mesmo intervalo, o PIB cresceu 26 vezes e o PIB Per Capita, 22 vezes comparado ao nosso. O motivo? Ela optou pelo compromisso em educação de qualidade, incentivo a competitividade global, investimentos prioritários em ciência e tecnologia, e – que inveja – políticas de Estado de longo prazo.
Kommentare